Primeiramente, vale dizer que
falamos bastante aqui de comunicação. E, como nosso objetivo é promover uma
parentalidade mais consciente, um dos aspectos que tem muito poder quando nos
conscientizamos é como nos comunicamos pouco (ou mal) com as crianças. E quando a criança não sabe se comunicar, não consegue entrar em contato com sua verdade interior, e tem dificuldade de
interpretar (e comunicar) suas próprias necessidades. (mais de comunicação aqui)
Quando isso acontece, as crianças tendem, então, a recorrer para o que a Laura Gutman chama de “pedido deslocado”.
Isso é, sem perceber, pedem o que acreditam que será ouvido, que chamará
atenção, e não aquilo de que realmente precisam. Ou seja, um desejo é
manifestado por meio do pedido de um outro desejo, e isso faz com que – não importa
o quanto seja atendido o pedido- a satisfação não venha, pois o verdadeiro desejo
não foi sanado.
O exemplo excelente que ela dá é
o pedido da bala. Acriança fica pedindo bala pra mãe, e mesmo que a mãe dê, a
criança continuará pedindo mais e mais. Mas, em verdade, o que essa criança
deseja é atenção verdadeira da mãe. Sentar para brincar, tê-la para si, curtir
e sentir a presença dela. Mas sem saber pedi-lo, ele pede bala. E como não é
bala que quer, continua pedindo-lhe.
Ai, chegamos ao não. Nesse momento, a mãe vai dizer-lhe
não. E quando paramos para analisar, muitas vezes o não é usado em momentos em
que não se está realmente conversando com a criança. Dando-lhe tempo, atenção
e, principalmente, comunicação. Dentro
disso, percebemos que fica muito difícil compreender o real desejo da criança
se não há observação e comunicação constantes. Ou seja, presença e atenção. Tempo e amparo genuinamente voltados para ela e nada mais.
Além disso, como sempre falamos
aqui, outro ponto absurdamente importante para compreender nossos filhos é compreender a nós mesmos. Para aprender
a enxergar e entender o desejo do outro, precisamos primeiro aprender a
compreender os nossos. Todos nós fazemos nossos próprios pedidos deslocados
durante o dia, nós mesmos buscamos uma coisa quando nosso desejo é outra, e
muitas vezes sequer entramos em contato com nosso verdadeiro desejo. E o
contato consigo, o relacionamento consigo mesmo e o auto-conhecimento são
essenciais para o convívio saudável com bebês e crianças.(mais aqui)
Mas, e ai, como fazer?
Inicialmente, o mais urgente é
desenvolver a capacidade de comunicação com a criança. E, dentro disso,
exercitar o direito às verdades. E, dentro desse tema, voltamos a falar da
compreensão de nós mesmos. Por que a comunicação com direito à verdade
interior exige que você não só entre em contato consigo e com suas verdades, como também que
converse com a criança sobre elas. Por que, vale reforçar, de uma forma ou de outra chega até ela. E o
melhor a se fazer é garantir que chegue da forma mais clara e saudável possível. Isto é,
através da comunicação!
A partir do momento que temos
ambas as verdades interiores consideradas (criança e adulto), satisfazer os desejos reais de ambos
fica possível, o que pode ser facilitado por acordos. Para que isso seja possível, faz-se necessária a
presença e o compromisso emocional, para que haja compreensão do pedido
real dessa criança.
Outra dica que a autora dá, que
pode-se usar de forma mais imediata, e que ajuda a colocar esses exercícios em
pratica, é o uso do “Ah!” no lugar do não e usar a resposta para compreender o desejo real.
Como assim??
A criança pede a bala. Ao invés
de dizer não, você diz “Ah! Você quer uma bala? Quer ir lá sozinho ou quer que
eu vá com você?”, por exemplo.Ai a criança diz “quero que você vá junto”. Então você entende
que, para além da bala, o que a criança pede é você. Então você diz “Hum! Eu
vou adorar ir lá com você, mas a gente não pode comprar bala, muito açúcar.
Topa fazer outra coisa comigo?” e ai se estabeleceu a comunicação.
A autora sugere, então:
11) Reconhecer
as necessidades da criança e verbalizá-las “Ah! Você quer bala? (verbalização)
Você quer que eu vá com você? (reconhecer
e nomear: reconhecer necessidade, interpretando e nomeando quando estiver
desajeitada e confusa)
22) Verbalizar
o que acontece comigo (verdade interior) “vou adorar ir com você” ou expor a
realidade objetiva “mas nós não podemos comprar bala”, exercitando a
comunicação. Para isso, é necessária a dedicação
de tempo e o interesse genuíno na criança. Levantar, segurar a mão e ir com
a criança explorar o entorno.
33) Propor
acordos, optando, a princípio, por uma atitude sim→não. Isto é “sim, eu vou
lá com você, mas não vamos comprar bala”. Nesse caso, o não é apenas um não, e
não adquire dimensões de privação. Mas, para isso, é necessário que seja no
contexto de comunicação.
E, para tudo isso, é importante
algo que Laura Gutman insiste. Que precisamos ter diariamente uma parte do dia
voltada para a dedicação sincera aos nossos filhos. E ela diz:
“Veremos que as lutas cotidianas
se suavizam e que surge o verdadeiro sentido pessoal que a vida compartilhada
com as crianças tem para cada um de nós”.
Gostaram das dicas?
Depois conta como está sendo na
prática!
Beijos
#PsiMama
Muito bom este blog Nanda!!
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