O “não”: como usar de forma positiva e com o direito à verdade.

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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Primeiramente, vale dizer que falamos bastante aqui de comunicação. E, como nosso objetivo é promover uma parentalidade mais consciente, um dos aspectos que tem muito poder quando nos conscientizamos é como nos comunicamos pouco (ou mal) com as crianças. E quando a criança não sabe se comunicar, não consegue entrar em contato com sua verdade interior, e tem dificuldade de interpretar (e comunicar) suas próprias necessidades. (mais de comunicação aqui)

Quando isso acontece, as crianças tendem, então, a recorrer para o que a Laura Gutman chama de “pedido deslocado”. Isso é, sem perceber, pedem o que acreditam que será ouvido, que chamará atenção, e não aquilo de que realmente precisam. Ou seja, um desejo é manifestado por meio do pedido de um outro desejo, e isso faz com que – não importa o quanto seja atendido o pedido- a satisfação não venha, pois o verdadeiro desejo não foi sanado.

O exemplo excelente que ela dá é o pedido da bala. Acriança fica pedindo bala pra mãe, e mesmo que a mãe dê, a criança continuará pedindo mais e mais. Mas, em verdade, o que essa criança deseja é atenção verdadeira da mãe. Sentar para brincar, tê-la para si, curtir e sentir a presença dela. Mas sem saber pedi-lo, ele pede bala. E como não é bala que quer, continua pedindo-lhe.

Ai, chegamos ao não. Nesse momento, a mãe vai dizer-lhe não. E quando paramos para analisar, muitas vezes o não é usado em momentos em que não se está realmente conversando com a criança. Dando-lhe tempo, atenção e, principalmente, comunicação. Dentro disso, percebemos que fica muito difícil compreender o real desejo da criança se não há observação e comunicação constantes. Ou seja, presença e atenção. Tempo e amparo genuinamente voltados para ela e nada mais.  

Além disso, como sempre falamos aqui, outro ponto absurdamente importante para compreender nossos filhos é compreender a nós mesmos. Para aprender a enxergar e entender o desejo do outro, precisamos primeiro aprender a compreender os nossos. Todos nós fazemos nossos próprios pedidos deslocados durante o dia, nós mesmos buscamos uma coisa quando nosso desejo é outra, e muitas vezes sequer entramos em contato com nosso verdadeiro desejo. E o contato consigo, o relacionamento consigo mesmo e o auto-conhecimento são essenciais para o convívio saudável com bebês e crianças.(mais aqui)

Mas, e ai, como fazer?

Inicialmente, o mais urgente é desenvolver a capacidade de comunicação com a criança. E, dentro disso, exercitar o direito às verdades. E, dentro desse tema, voltamos a falar da compreensão de nós mesmos. Por que a comunicação com direito à verdade interior exige que você não só entre em contato consigo e com suas verdades, como também que converse com a criança sobre elas. Por que, vale reforçar, de uma forma ou de outra chega até ela. E o melhor a se fazer é garantir que chegue da forma mais clara e saudável possível. Isto é, através da comunicação!

A partir do momento que temos ambas as verdades interiores consideradas (criança e adulto), satisfazer os desejos reais de ambos fica possível, o que pode ser facilitado por acordos. Para que isso seja possível, faz-se necessária a presença e o compromisso emocional, para que haja compreensão do pedido real dessa criança.

Outra dica que a autora dá, que pode-se usar de forma mais imediata, e que ajuda a colocar esses exercícios em pratica, é o uso do “Ah!” no lugar do não e usar a resposta para compreender o desejo real.

Como assim??

A criança pede a bala. Ao invés de dizer não, você diz “Ah! Você quer uma bala? Quer ir lá sozinho ou quer que eu vá com você?”, por exemplo.Ai a criança diz “quero que você vá junto”. Então você entende que, para além da bala, o que a criança pede é você. Então você diz “Hum! Eu vou adorar ir lá com você, mas a gente não pode comprar bala, muito açúcar. Topa fazer outra coisa comigo?” e ai se estabeleceu a comunicação.

A autora sugere, então:

11)      Reconhecer as necessidades da criança e verbalizá-las “Ah! Você quer bala? (verbalização) Você quer que eu vá com você? (reconhecer e nomear: reconhecer necessidade, interpretando e nomeando quando estiver desajeitada e confusa)
22)      Verbalizar o que acontece comigo (verdade interior) “vou adorar ir com você” ou expor a realidade objetiva “mas nós não podemos comprar bala”, exercitando a comunicação. Para isso, é necessária a dedicação de tempo e o interesse genuíno na criança. Levantar, segurar a mão e ir com a criança explorar o entorno.
33)      Propor acordos, optando, a princípio, por uma atitude sim→não. Isto é “sim, eu vou lá com você, mas não vamos comprar bala”. Nesse caso, o não é apenas um não, e não adquire dimensões de privação. Mas, para isso, é necessário que seja no contexto de comunicação.

E, para tudo isso, é importante algo que Laura Gutman insiste. Que precisamos ter diariamente uma parte do dia voltada para a dedicação sincera aos nossos filhos. E ela diz:

“Veremos que as lutas cotidianas se suavizam e que surge o verdadeiro sentido pessoal que a vida compartilhada com as crianças tem para cada um de nós”.

Gostaram das dicas?

Depois conta como está sendo na prática!

Beijos

#PsiMama

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