Primeiramente, eu acho importante
esclarecer que cada caso é um caso, que deve ser avaliado de maneira
individual. Outro aspecto é que em momento algum eu digo que as cólicas não
existem. E, para finalizar essa introdução, lembrem que sombra chama sombra por
que é o sombrio, o que não queremos ver, portanto, é claro que passa despercebido
ou pode causar negação. Então sugiro ler esse texto se, e somente se, sua
proposta for a de maior conscientização, de mente aberta e vontade verdadeira
de voltar o olhar para si e fazer análise.
Em textos anteriores, explicamos
o conceito de sombra e o porquê de Laura Gutman falar do encontro, e muitas
vezes projeção, da sombra na maternidade. Pois bem, mesmo que você não tenha
lido ainda (mas sugiro que leia), eu explico: o bebê tem uma fusão emocional
com a mãe em seus primeiros dois anos de vida,
uma vez que ainda está formando seu conceito de eu e desenvolvendo sua
psique e estrutura emocional. Portanto, reflete o emocional da mãe, a projeção
do que ela emana. No entanto, por ser uma fase muito intensa que traz à tona
muitos sentimentos e lembranças, traz consigo também os sentimentos e
lembranças que não são tão amigáveis e interessantes de se enfrentar. Portanto,
para suprimir esse “encontro”, muitas vezes a reação primeira é de projetá-los
nos bebês. Ou seja, ao invés de admitir, por exemplo, que você está muito sem
paciência, você diz “esse bebê chora demais”. A mãe acaba por nomear essas
projeções em características e aspectos do bebê como forma de se liberar de
enfrentar essas manifestações de sombra.
Pois bem, então onde entra a
cólica ai?
É muito comum ouvir em nossa
sociedade que “junto com a mãe nasce a culpa” não é mesmo?! E, além disso,
ouvimos também inúmeros motivos por que sentir culpa! Os famosos “pitacos” e
comentários são uma das primeiras experiências que as recém mães vivem, ainda
no hospital, às vezes até durante a gravidez! E eles são a primeira fonte de
culpa, uma lista infindável de coisas erradas que você está fazendo e não
deveria fazer. Já perceberam? E, nessa lista, muitas vezes se encontram comidas
que não deve comer, bebidas que não deve tomar, entre outras proibições, que
outrora faziam parte do seu dia a dia e dos pequenos prazeres aos quais você se
rendia . Pois bem, esses desejos persistem por todas essas coisas, mais agora
eles vêm embalados no pacote da culpa por
que você não deveria estar comendo
aquelas coisas. Então não é raro vermos mães temerosas de consumir qualquer
alimento que seja durante a amamentação, evitando inclusive alimentos que não
estão na lista da culpa, mas que
ainda sim “dão cólicas” no bebê. Por que, tomadas pela culpa, qualquer choro do
bebê toma a dimensão de cólica. Qualquer força, qualquer ruído, vira som de
cólica.
Vejo, também, mães que não
amamentaram mudando o tipo de leite o tempo inteiro por manifestações do bebê,
que os médicos não conseguem definir o que é, mas que ao analisar de forma
profunda, também são projeções dessa culpa, ou de outros sentimentos que são,
para essas mães (e somente para elas) conseqüência da falta de amamentação.
Da mesma forma, algumas mulheres
que tiveram esses aspectos trabalhados mostraram uma mudança significativa na
interpretação dos choros de seus bebês, e perceberam que chamavam de cólicas
manifestações normais e diárias do bebê.
“Mas meu bebê tem crise de cólica
e chora demais, não pára de chorar. E do mesmo jeito que vem, vai embora, do
nada”.
O interessante, quando analisamos
por essa perspectiva, é perceber que essas “crises de cólica” podem ter vários
motivos. Alguns deles:
- O bebê tem outras necessidades pelas quais está chorando, mas a culpa só deixa a mãe enxergar cólicas. Entra em desespero, dá remédio, banho quente, tenta de tudo, mas o bebê continua chorando. Ele ainda chora por que o verdadeiro motivo pelo qual está chorando, a verdadeira demanda, ainda não foi atendida, uma vez que a culpa a ofusca, sendo enxergado apenas cólica e mais nada. Às vezes era frio, fome, sede, sono, etc
- O bebê segue o ritmo da mãe. Acostumado com sua freqüência respiratória, acompanhando seu humor desde a barriga, eu bebê te conhece como ninguém. Quando a culpa te faz ver cólicas e isso te altera, sua freqüência respiratória muda e seu humor também. O bebê sente e segue o embalo. Quando a mãe já está desesperada sem saber o que fazer por que o bebê não pára de chorar “por causa das cólicas”, o bebê está também desesperado por que está acompanhando a mãe. Por isso que muitas vezes a cólica vai embora “do nada”. Por que depois de tentar tudo, a mãe desiste e se acalma. O bebê, exausto, se acalma também e dorme
- As crises têm alguma função, e por isso surgem, às vezes até com hora marcada para chegar (todo dia no mesmo horário). Um exemplo que posso citar é de uma mãe que o bebê tinha cólicas à noite, todo dia. A mãe, já exausta, ao fazer intensa análise, percebeu que era o horário que ela estava recebendo mais visitas da família, e que com as crises de cólica, eles pararam de vir visitar, ela finamente tinha um motivo para acabar com as visitas constantes que a estavam incomodando muito. No entanto, as crises se mantiveram, uma vez que se elas passassem, no imaginário da mãe, as visitas voltariam no dia seguinte. Isso se chama projeção de sombra.
Da mesma forma, podemos analisar
vários aspectos do dia a dia dos bebês: bebe que chora “demais”, que mama “demais”,
que acorda “muito” à noite, etc.
Esse texto foi feito com muito
carinho, e faço questão de insistir que não é uma análise fácil de fazer, e
muitas vezes só a vontade de fazê-la não é suficiente para que se
consiga. Por isso temos o suporte profissional para tal.
Além disso, os motivos
verdadeiros podem (e muitas vezes são) bem mais profundos e internos,
enraizados e oriundos de nossas infâncias, e, portanto não são assim tão fáceis
de alcançar. Exemplifiquei aqui com casos mais simples para fim de compreensão.
Espero que ajude!
Grande beijo
#PsiMama
Muito bom texto!! Parabéns Nanda!!
ResponderExcluirIncrível! Trouxe um grande auxílio, obrigada. Parabéns.
ResponderExcluirEsse texto explica tudo que passei com Miguel! Eu recebia visita todos os dias o di todo. Chegando a ter gente em casa até duas da manhã (camisola de amamentar? Nunca usei! Tinha sempre alguém pra receber 😳 Repouso? Tinha que arrumar casa antes e depois da visita). Resultado: depois de uma semana, toda visita que era recebida com uma bela "crise de cólica". Porém nem assim as visitas acabaram... recebo até hj, seis meses depois 👀
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