Hoje, meu filho me mordeu forte e eu fiquei perdida.

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terça-feira, 1 de novembro de 2016


Fiquei alucinada na hora, de tanto que doeu. Estávamos numa loja de departamento, comprando sapatos, e ele não queria experimentar, apesar de ter escolhido qual queria. Falou que não queria colocar, depois gritou, peguei ele no colo e ele me bateu. Fiquei brava, mas respeitei fundo. Expliquei que não pode, com firmeza. Insisti no nosso combinado, que isso não pode. Ainda sim, ele, com raiva, me mordeu. Fiquei perdida! Não sei o que doeu mais, a mordida em si ou a humilhação que senti. A dor dentro de mim por achar que eu, com certeza, estava fazendo alguma coisa errada. E eu pensava. Eu? Justo eu?! Que estudo tanto! Que defendo com unhas e dentes o educar com respeito e carinho. Estaria eu errada?! 
Na hora, veio na cabeça que eu deveria bater nele. A raiva, a frustração, a vontade de provar para mim mesma que eu não estava perdendo controle da situação. Respirei fundo. Contei até dez. E retomei. Pensei em tudo o que já li, tudo que entendo, tudo o que sei. Lembrei do texto da Sthefany Nering, dos textos e da palestra do Thiago Queiroz, das doces palavras da Laura Gutman, das limitações cognitivas descritas por tantos teóricos que já estudei. Respirei fundo de novo, e mais uma vez reforcei firme para o meu filho que ele tinha me machucado, e que doía. Expliquei como aquilo me deixou triste, e como é ruim sentir isso. Insisti no nosso combinado: "não pode morder, bater nem empurrar".

 Respirei fundo de novo, e entrei em contato com o tanto que aquele momento me doeu no ego. Me doeu, me senti testada, e quando ele sorriu depois de me morder, me senti dando a ele o prazer da minha dor. Quando tudo passou, me lembrei que se trata de um bebê, que me mordeu de forma primitiva por ser a única forma de expressar raiva que ele ainda consegue lidar. Lembrei que o sorriso veio pois é tudo que ele aprendeu a fazer para me agradar. Foi uma tentativa de reparo. O resto, as interpretações, eram minhas. Eu, mulher adulta, cheia de nomeações e sentimentos próprios, projetando-os todos no meu filho, num momento difícil para nós dois. A vontade de bater, de morder de volta veio, eu sei! Mas não sedi à elas, pois isso faria de mim outra criança de dois anos. Duas, que se mordem e se batem. Isso faria de mim outro ser em resposta primitiva. Mas eu sabendo mais que isso, contei e respirei fundo, e permiti que meu neocórtex comandasse a situação . E, apesar de me sentir a pior mãe do mundo, quando tudo passou, consegui perceber que, pro senso comum, estou errada. E isso me dói. Foi o que aprendi, foi o que sempre ouvi, foram as ferramentas que eu sempre tive. O senso comum me diz que eu deveria bater nele para ele aprender e não se tornar uma criança tirana.  Meu conhecimento, por outro lado, me mostrou que estou usando as informações que tenho, o respeito e o carinho para educar meu filho sem pedir dele mais do que ele tem pra dar, e sem projetar meu ego, meus complexos e dificuldades nele. Me mostrou que a violência ensina violência. E o respeito ensina o respeito. A empatia ensina a empatia. E isso, depois de respirar fundo e não me deixar levar, me mostrou que estou no caminho certo. Pode não ser o que defende o senso comum, pode não ser o mais fácil, nem o método com o resultado mais rápido. Mas é, com certeza, a forma de chegar- a longo prazo- no meu objetivo: ensinar meu filho a não fazer mal ao próximo - não por medo das consequências para ele mesmo - mas sim por amor, respeito, carinho e empatia com o próximo. E isso leva tempo, e está tudo bem.. 
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