Existem várias formas de dificuldade na amamentação. É uma fase difícil mesmo. O peito dói, a pegada é exaustivamente treinada, você já está exausta.
Mas dentre os vários motivos por que podemos ter dificuldade, uma cena aparece frequentemente.
Muitas vezes, raciocinamos demais a alimentação do bebê, fazendo de cada mamada uma incógnita.
E preocupadas, se estressam e ficam na certeza de que o bebê mamou pouco e que está com fome. Sua respiração muda, seu humor também, e a mãe começa a se estressar. Se preocupar. Ao mesmo tempo, o bebê (assim como no útero) percebe a mudança da respiração e do humor, e também se assusta. Ele começa a chorar. A mãe tem certeza de que ele chora de fome. Tenta dar peito de novo. O bebê não quer, mas chora. Ela fica nervosa! "Está com fome e não quer peito! O que eu faço??" Tenta de novo, ele não quer, e chora. Ela fica ainda mais nervosa! O bebê, então, sem saber o que se passa, se desespera. Chora assustado, gritando.
A mãe já não sabe o que faz. "Será cólica? Será que ele quer mamadeira??". Ela olha a fralda, está seca. Aperta a barriguinha, mas não está com sinais de cólica. Ela fica cada vez mais nervosa. O bebê também.
Ela já não sabe o que fazer, tenta aquece-lo, tenta acalma-lo, mas sequer acredita que qualquer uma daquelas coisas vai funcionar. E ela pensa "meu Deus, meu filho está com fome, o que eu faço?". Se desespera mais. Chora! Os dois choram. Ela não sabe o que fazer. Ele chora até dormir. Dorme. Ela não entende, mas aceita que ele dormiu, e respira aliviada.
Essa cena se repete várias vezes, por que a hora de alimentar o filho já vem com o medo desse "show" todo. E a respiração muda só de perceber que ele está acabando de mamar.. E o bebê já se assusta no menor sinal de que tudo se repetirá. A mãe está exausta, o bebê também. O que fazer?
Não, esse não é um texto para culpar ninguém, nem fortalecer o sentimento de culpa que pode vir com a dificuldade da amamentação.
Também não é um texto que traz uma solução, mas traz um questionamento poderoso que pode ajudar muito.
O que quero dizer com "fome de quê"?
No exemplo acima, você diria que o bebê tinha fome de quê?
Olhando pelo viés de fusão emocional bebê/mãe, fica claro que o bebê tem mais de um tipo de fome. Isso por que as necessidades da mãe também são necessidades do bebê, e isso assim será até os nove meses (mais ou menos, cada um é único em seu desenvolvimento).
Às vezes, resumimos a carência do bebê a querer "colo". Mas dentro de "colo", podemos diferenciar carinho, intimidade, tranquilidade e afeto. Isto é, o colo sozinho não tem efeito, quando a mãe não está conectada com o bebê. E essa conexão muitas vezes não ocorre, por que a mãe está muito preocupada, cansada, focada nos problemas que têm tido. E isso é absolutamente NORMAL!
Na amamentação, por exemplo, vemos várias mães que se preocupam tanto com minutos de mamada, mL, fome e peso, que acabam tirando sem querer o foco do bebê. E tudo o que elas conseguem ver é leite, fome, peso.
São muitas mudanças, muitas novidades, muito ao que se adaptar. E às vezes as mães estão tão atoladas que não se dão a oportunidade de parar, respirar fundo e curtir o bebê.
E essa é a dica de hoje. Se dar a chance, uma vez por dia, de esquecer tudo isso é relaxar. Colocar uma música que traga paz, e se conecte com você. Depois pegue o bebê e se dê a oportunidade de curtir, "namorar", trocar olhares, sentir-se íntimo. Estar tranquila, calma, sem pressa ou preocupação. Se conecte verdadeiramente com o bebê!
Uma ferramenta poderosa que estudo é o empoderamento. A gente fala dele demais no parto e esquece dele no pós-parto. Sabe aquela certeza de que seu corpo sabe parir? É a mesma coisa. Seu corpo sabe se conectar com o bebê, sabe alimentá-lo, sabe cuidar dele. Mas para tanto, assim como no parto, é necessário que você esteja conectada e empoderada.
Da mesma forma, é necessário entender que o bebê sabe se alimentar também. Sabe a hora que quer mais, e quando está satisfeito. Quando está só com sede, ou com fome de leão. Quando precisa dar uma mamadinha pra pegar no sono, ou só para sentir a mãe. O bebê tem vários tipos de fome, e você não precisa entender todos eles. Precisa é confiar no seu corpo e no corpo do seu bebê. Seus instintos, sua natureza, que sabem suprir as próprias necessidades.
Às vezes a ansiedade não nos deixa dar tempo à natureza de fazer a parte dela.. De nos entregar, assim como no parto, à maternidade e ao bebê. De entender que o bebê tem suas fomes diferentes, e que se permitindo conectar à ele, todas elas serão supridas em tempo. No tempo certo. Sem pressa, sem desespero, sem raciocinar demais. Entregando-se.
Sabe aquela cena da gestante em trabalho de parto dançando no ritmo das contrações? É a mesma coisa. Entrar em contato com a experiência mãe/ bebê, e calmamente dançar no embalo do ritmo de vocês.
A livre demanda e o colo são essenciais, bem como a saúde emocional da mãe. Ficar tranquila e ter confiança no seu poder de fazer tudo isso dar certo, na certeza de que flui .
Se empoderar e ficar tranquila tranquiliza e empodera o bebê!
E essa tranquilidade vem quando você tem a certeza de que não importa o que vier pela frente, juntos vocês vão se entender. Vão conseguir fazer dar certo..
Entregar-se na dança gostosa da maternidade pode ser uma experiência de gozo profundo, assim como no parto!
#OPoderdoDiscursoMaterno
Deixe Seu Comentário
Postar um comentário