Puerpério: o conceito de “Loucura Necessária” e a confusão com Depressão Pós-Parto – o permitir elouquecer!

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Essa semana tivemos alguns episódios que trouxeram a “Depressão Pós-parto” à tona, e acredito ser extremamente importante explicar algumas coisas sobre tema. 



Primeiramente, vale ressaltar que falo sob a perspectiva junguiana estudada e comprovada empiricamente pela psicoterapeuta Laura Gutman. 

A autora explica, em seu livro “A Maternidade e o encontro com a própria sombra” (dica de leitura aqui), que certa “loucura” é comum nas mulheres no pós-parto, e que isso se faz necessário! – sair do raciocínio padrão para um “estado mãe” para que haja a fusão emocional “mãe/bebê". 

Ela diz:
As mulheres puérperas têm a sensação de enlouquecer, de perder todos os espaços de identificação ou de referência conhecidos; os ruídos são imensos,a vontade de chorar é constante, tudo é incomodo, acreditam ter perdido a capacidade intelectual, racional. Não estão em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. Vivem como se estivessem fora do mundo; vivem, exatamente, dentro do ‘mundo-bebê’.”

Além disso, vale considerar que é um momento de muitas mudanças, tanto efetivas de vida quanto hormonais, o que torna essa “Loucura Necessária” algo que vem à tona em um momento de muita vulnerabilidade e sensibilidade. Que é justo quando surge o contato com lado obscuro, o “encontro com a própria sombra”, que se reflete nesse relacionamento fusional com o bebê. 

E como tudo na vida, a experiência desse encontro será única e individual para cada mãe, e a diversidade disso faz com que apareça de inúmeras formas e configurações diferentes! E isso abre portas para diagnósticos errados e medicalização, que muitas vezes acabam por adormecer e esconder quimicamente o que deveria ser um processo saudável. 

O ideal nessa fase da vida da mulher é ter a compreensão e o apoio necessários para que se permita  com tranquilidade o mergulho nessa loucura. Acompanhá-las às profundezas da alma feminina, deixá-las irem de encontro com as próprias sombras e aproveitar essa janela de oportunidade para promover o auto-conhecimento, além da deliciosa fusão com seu novo pedacinho externo.

Quando isso não acontece, e esses sentimentos são novamente relegados à sombra e escondidos ainda mais profundamente, tem-se então a manifestação desse “obscuro” no frágil e recém-chegado relacionamento com o bebê! Isto é, reflete no comportamento, adoecimento e enfraquecimento da fusão, e do bebê em si. E então emergem dificuldades de amamentação, adoecimentos, dificuldade no apego, entre outras muitas formas de exteriorizar. 

No entanto, quando esse momento é usado de forma positiva, à medida que a mulher entra em contato com esse obscuro, se questiona, se conscientiza, indaga e investiga e, aos poucos, assume a própria sombra! Dessa forma, não só se conhece como nunca, como também libera seu filho da manifestação dessa sombra!

Por que "permitir enlouquecer"?

Porque uma das grandes dificuldades dessa “Loucura Necessária” se instalar é a cobrança daqueles que rodeiam a mãe! Querem que continue “funcionando como antes”, que esteja feliz e sorridente, linda e arrumada, quando a mulher precisa é estar mergulhada nessa experiência! 

É preciso que elas enlouqueçam! 
Que se permitam, que se sintam seguras nesse processo! E para isso é necessário a compreensão e o apoio daqueles que a amam, para possibilitar que possam abandonar sem risco o mundo racional e material, mergulhando inteiramente no mundo mãe/bebê! (Texto legal sobre isso aqui )

E a Depressão Pós-Parto?
Segundo a psicoterapeuta, para que se instale a doença real, faz-se necessário haver um desequilíbrio emocional ou psíquico importante anterior ao parto. Além disso, a experiência de um parto mal cuidado e a desproteção emocional pós-parto também. No entanto, ela reforça que, ainda com todos esses fatores, somente algumas mulheres desenvolverão a doença propriamente dita. A maioria supera naturalmente, com o apoio e o tempo, o desconcerto que pode ser produzido com sua queda emocional. 

Por ser um tema rico, será abordado em outros posts. Mas caso haja alguma dúvida, a "PsiMama Responde" pode auxiliar! Pergunte por comentário ou inbox :) 

Mas por hoje é só! 

Espero que amem!


Bjs

#PsiMama

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3 comentários on "Puerpério: o conceito de “Loucura Necessária” e a confusão com Depressão Pós-Parto – o permitir elouquecer!"
  1. O que pode refletir um marido no meio dessas loucuras, quando tudo fugiu muito além do que nunca imaginou ser possível?

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  2. Emmanuel, para te tranquilizar, fugir do que se imaginou faz parte das surpresas desse momento. Claro que de forma particular a cada família e mulher.
    O papel do marido, de acordo com a minha linha de estudo e pensamento, é o *suporte emocional incondicional*! Dar muito apoio para que ela se permita passar por esse momento, segura de que tem o seu suporte total. Nesse momento de loucura necessária, a garantia de que seu amor superará essa fase com certeza vai facilitar a travessia.
    Um texto muito legal sobre esse apoio é esse:

    http://www.psimama.com.br/2016/02/aos-pais-avos-amigos-e-quem-mais-quiser.html?m=0

    Um texto sobre a outra possibilidade de ter "fugido do que se imaginou" que pode ajudar muito é esse:

    http://www.psimama.com.br/2016/02/a-expectativa-irreal-infantil-e.html?m=1

    Espero ter ajudado! No fim das contas, é um momento de grande crescimento pessoal e do casal, se assim se permitirem!

    Grande beijo!

    Nanda Perim

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  3. Não acha que esse trecho promove culpabilizaçao? Adorei o texto e gosto de seus posts, mas vale pensar que há coisas que simplesmente escapam. Não saberemos sempre o que houve. Podemos revisitar e ressignificar, mas não o acesso real a coisa (doenças, problemas, etc). Há um bebe como alteridade a parte e com corpo próprio, ainda q em uma mistura fusional.

    Eis o trecho

    Quando isso não acontece, e esses sentimentos são novamente relegados à sombra e escondidos ainda mais profundamente, tem-se então a manifestação desse “obscuro” no frágil e recém-chegado relacionamento com o bebê! Isto é, reflete no comportamento, adoecimento e enfraquecimento da fusão, e do bebê em si. E então emergem dificuldades de amamentação, adoecimentos, dificuldade no apego, entre outras muitas formas de exteriorizar.

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