A expectativa real, o preparo pré-puerperal e a boa experiência: o que a mãe de primeira viagem tem a ver com isso?
Meu objetivo com a página e o blog nunca foi de compartilhar
experiência pessoal. Para isso, já temos inúmeras paginas excelentes e
divertidíssimas. Minha vontade sempre foi que fosse um espaço de informação, baseado
em muito estudo. E continuará sendo. No entanto, falo de parto, preparo
pré-puerperal (mais aqui), empoderamento pós-parto (mais aqui) , puerpério e criação. E nessa ultima
semana, eu passei por todos esses temas de uma vez, pela segunda vez. E não deixo de ver a
grande utilidade disso no meu trabalho aqui.
Eu estou passando por coisas que descrevo, usando de
conhecimentos que adquiri e o tempo todo me perguntando como usar isso de forma
positiva para complementar a experiência de quem acompanha meus textos.
O "Meu Diário do Puerpério" veio para usar dessa experiência para
que possamos colocar em análise a seguinte questão: de que todas essas
informações me valeram no puerpério? Como têm sido minha experiência, então?
Mas, afinal, o que disso tudo aconteceu pelo preparo e empoderamento puerperal,
e o que foi conseqüência de eu ser mãe de segunda viagem? O que, disso tudo, tem a ver com a experiência maravilhosa
de parto domiciliar que eu tive?
Então, vamos lá. Primeira coisa que precisa ficar claro: estou
muito satisfeita com essa primeira semana de puerpério. Mas teve choro? Teve,
muito! Teve “TPM forte”, Loucura Necessária (mais aqui), briga com as pessoas e crises de
raiva? Sim, também! Teve peito dolorido, sangrando, com febre alta e dificuldade
na amamentação? Teeeve! Barriga murcha de pós parto? Nossa, sim! Teve saudade do mais velho e mais choro? Privação de
sono, cansaço, irritação, medo, mais choro ainda, arrependimentos? Sim. E
comentários alheios super irritantes?? Teve, muito! E projeção de sombra, lidar
com o oculto, filho doente, filho chorando ‘por nada’, sombra pra todos os
lados? Teve, muito. Teve tudo isso. E está tendo ainda! E teremos por um tempo.
Mas também teve empoderamento, exterogestação (mais aqui), auto perdão e
a compreensão do que estava acontecendo. Teve o tempo inteiro a consciência da
loucura necessária e a consequente liberação de qualquer sentimento de culpa pelo que eu
estava passando. Teve eu avisar pro mundo que estava assim, e que quem não
topasse que nem chegasse perto. Teve meu filho ser só meu por uma semana e as
pessoas sequer terem expectativa de pegar ele no colo por entender que ainda
não estou emocionalmente pronta pra isso. Ou por que não queriam brigar rs. Mas
de qualquer forma, pelo motivo que for, tive meu tempo, meu espaço, minha
Loucura Necessária, respeitados.
Principalmente por mim mesma.
Consegui pedir
desculpas quando exagerei, sem sentir que estava ficando louca, pois eu sabia
que era uma loucura temporária. Consegui reconhecer saudade do mais velho,
conversar com ele garantindo-lhe direito à minha verdade interior, e nos liberar os dois
de sintomas negativos.
Consegui pedir ajuda, organizar para ter apoio, me permiti banhos longos e cozinhaterapia enquanto Gael dormia. Dormir a noite toda com ele no peito, mesmo que muitos discordem, por que estou em contato com o que acredito.
Teve marido percebendo coisas que leu e mudando de
postura também.
Teve muita, muuita conseqüência boa de preparo pré-puerperal e
do empoderamento pós-parto.
“Mas você é mãe de segunda viagem! É mais fácil mesmo!”
Quero analisar isso junto com vocês. Podemos falar a mesma
coisa do meu parto. Foi o segundo, “geralmente” é mais fácil e rápido. Mas meu
primeiro parto me deixou com medo de parir de novo. E eu peguei isso e usei a
meu favor, me preparando e me empoderando como eu nunca tinha imaginado ser
possível. E o meu parto refletiu isso. Mas se eu não o tivesse feito, será que o fato de ser o segundo parto por si só seria o suficiente? Será que teria sido um parto rápido e muito bom, num hospital e sem aqueles exercícios? Eu acho que não. Eu pari em casa, pari consciente,
mergulhei na partolândia, fiz vários exercícios, usei vários métodos e tive uma
evolução de parto excelente por conseqüência de todo esse preparo. E não por consequência de já ter parido. Preparo esse
que fica bem mais fácil quando você já pariu uma vez? Sim. Apesar do primeiro
parto ter me traumatizado muito. Então, nunca saberemos. Será que foi o conjunto? Provavelmente.
Mas uma dúvida que fica em mim é: até que
ponto o preparo que eu tinha por já ter parido tem, em parte, muitos aspectos
que podem ser passados e usados para o preparo de um primeiro parto de alguém?
Exemplo?
Trabalhar a expectativa de nascer a partir de 38 semanas (e se deixar
esperar que venha com mais de 42), trabalhar a expectativa de ter um parto
rápido (e se deixar esperar um parto de 20 horas), trabalhar respiração, relaxamento.
Considerar parto não hospitalar em casos de baixo risco. Todos esses detalhes
que foram muito mais importantes pra mim do que, por exemplo, já conhecer a
dor.
O mesmo digo do puerpério. Eu já conhecia a dor do peito, e
sabia que ela viria. Conhecia a febre e a dor da apojadura (descida do leite),
e sabia que ela viria. Já estava acostumada a dormir pouco, por que me lembrava
como era. No entanto, também tive agravantes de mãe de segunda viagem: outro
filho pra dar conta, mais um acordando a noite, a saudade do filho único, os
medos de coisas que aconteceram no primeiro puerpério, (que ficaram enormes, com
o tempo, na minha imaginação, assim como do primeiro parto).
E mais importante do que esses detalhes, nessa minha
primeira semana de puerpério, foram aspectos que eu não aprendi no primeiro
puerpério, mas sim estudando e escrevendo muito depois disso.
Quando você
pergunta (como eu fiz) para mulheres que sofreram no inicio da amamentação o
que foi mais difícil, a maioria delas diz que não estava esperando. Que mesmo
fazendo todos os cursos de gestante, ninguém nunca tinha falado que amamentar
no início pode doer muito. E saber isso facilitou mesmo ser meu segundo. Mas isso é falta de preparo pré-puerperal. E não precisamos passar por um puerpério para ter expectativas reais. Isso que estou tentando explicar.
São os
tipos de informações que facilitam no segundo puerpério, mas que seriam
excelentemente eficazes num bom preparo pré-puerperal de primeiro puerpério. Ou de segundo, para quem passou por tudo isso, mas sem a consciência dos processos suficiente a ponto de ajudar no segundo.
Que é minha proposta
aqui. Que é o meu trabalho, hoje.
Lógico que nós nunca vamos saber o que serviu mais, a experiência
ou o preparo. Como pro parto, no puerpério provavelmente foram os dois. Mas em meu coração, sinto fortemente que em grande parte são coisas que pode ser mais bem trabalhadas para a primeira vez.
Outro ponto que facilitou demais essa primeira semana foi a
qualidade do meu parto, que busquei e conquistei. Não tive nesse puerpério o
estresse pós-traumático do primeiro, causado pela minha experiência de parto, que me doeu, doeu meu corpo e dificultou ainda mais aquele momento. Mas será que é necessário passar por um primeiro parto para acertar no segundo? Será que todo esse preparo, os processos e técnicas que aprendi e que me ajudaram muito, teriam me ajudado no primeiro parto caso eu tivesse tido esse preparo? Acredito que sim.
Minha dica? Busque um parto maravilhoso. Como? Estude suas opções, busque o que te deixa mais à vontade e feliz.
Mas a dica mais valiosa é se preparar intelectual E EMOCIONALMENTE para o parto e para o pós parto!
(qual a diferença? Leia aqui).
A expectativa real das experiências difíceis tornam a
realidade mais fácil de processar, os seus processos mais fáceis de respeitar,
e o peso da culpa bem mais fácil de relevar.
Como diria Laura Gutman,
“É indispensável
saber de antemão que a sombra fará uma aparição desmedida durante o pós-parto;
caso contrário, cada nova sensação assustará”
Fotos dessa primeira semana de puerpério:
E ai, o que vocês pensam sobre esse texto? Me dê sua opinião sobre os questionamentos aqui colocados! Eu realmente quero saber!!
Beijos
PsiMama
Amei! Bem real e pé no chão, cheio de verdades! Obrigada pelo tão enriquecedor relato.
ResponderExcluirNanda, amei o texto. A busca pelo parto respeitoso e não romantizada-lo me ajudou muito na minha primeira experiência. Na gestacão eu pensava tanto no meu parto e na amamentacão que sonhei várias vezes. No primeiro sonho eu entrava em trabalho de parto e não tinha nada preparado para o meu bebê nascer. No segundo sonho eu estava em trabalho de parto e não tinha dores aquilo era frustrante eu eu ficava perguntando pela dor. No terceiro sonho eu conseguia parir lindamente, sentia as dores que trazia meu filho e tal, mas não conseguia amamentar e ficava desesperada. Então no quarto sonho consegui parir e amamentar como eu desejava. Pode parecer loucura, mas esses sonhos significaram muito para mim e me ajudou a ter uma experiência de parto positiva e a amamentação foi ótima, não tive problemas. Ficava apaixonada com meu bebê mamando e encantada por eu poder proporcionar o sustento, aconchego e todo carinho através do ato de amamentar. O puerpério tive muita tpm forte e como foram intensas. Meu bebê com 6 meses e ainda tenho essa barriguinha pós parto.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmei Nanda! Vc ta arrasando muito!!! Parabéns!! Bjo Helena
ResponderExcluirNanda, totalmente maravilhoso e empoderado!! As fotos conseguiram ilustrar tudo o que você disse no texto e mais um pouco!!! Dia desses eu ouvi que com o primeiro você aprende a ser mãe, com o segundo você aprende a se dividir como mãe. E exatamente isso que o texto me fez refletir: uma busca para ser melhor em todos os sentidos. ��������
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