por Nanda Perim
Olá! Me chamo Nanda Perim e sou mãe do Théo, de um ano e
oito meses, e do Gael, de um dia.
Quando descobri que estava grávida, fiquei chocada, pois não
estava planejando. Mas o que me assustava não era a idéia de ter outro bebê,
isso eu sabia que eu dava conta. Me assustava a idéia de parir de novo. Na
verdade, mais do que me assustava, me deixava em pânico. Minha primeira experiência de parto era algo que eu jamais queria repetir.
Pouco tempo depois, descobrimos que meu marido havia passado
num concurso e que mudaríamos de Vitória/ES para Porto Velho/Ro, e por algum
motivo, me tranqüilizava saber que eu poderia ter que fazer uma cesária por ter
sido diagnosticada com placenta prévia.
Pouco antes de ir para Porto Velho de vez, esse diagnóstico
foi abaixo, era apenas um hematoma subcoriônico que já havia secado. Enfim, o
parto normal voltou a ser a opção principal. Mas eu não queria outro parto
normal como o ultimo, e sabia que alguma coisa teria que ser diferente.
Busquei, li e me apaixonei pela idéia de fazer parto domiciliar. Lemos,
estudamos, perguntamos e buscamos. Mas esse sonho foi abaixo quando o único grupo
de PD de PVH não poderia me acompanhar na data provável de parto. Rui. Mas
depois me reencontrei com a idéia de voltar para Vitoria para fazer o sonhado
PD. Liguei pra equipe, liguei para o médico, esperei respostas, marquei
passagem. A conversa com eles sobre os riscos só me deixou mais animada pro
parto domiciliar.. eu sabia que era a opção mais saudável!
E voei grávida de 36 semanas com mala, cuia, filho e marido
para realizar o sonho. Com todo o apoio, esperamos ansiosos, na expectativa que
Gael viesse a partir de 13 de Março. Meu marido viajou a trabalho, e voltava
dia 8 à noite. Estávamos seguros do tempo, mas na manhã do dia 08, com meu mais
velho nos braços as 6h, senti uma contração leve. Fiquei na duvida, mas então a
bolsa estourou e tive certeza de que algo estava acontecendo. Esperei, senti
outra contração, e mais água nas pernas. Liguei pro marido, avisei. Liguei pra
doulinda Carol, avisei. E ela sugeriu que eu tomasse um banho de água quente e
relaxar. Com o filho acompanhado da Paula (funcionária aqui de casa e um dos
suportes do dia), fui pro banho quente. Lá, as contrações ficaram mais doídas,
e o intervalo menor. Liguei pra Carol e pedi ajuda. Senti a dor forte, muito
forte, e fiquei com medo. Medo, por que estava só no começo, e já doía demais e
eu não achava que ia agüentar muitas horas daquilo. Medo, por que meu parto
anterior havia durado mais de cinco horas de TP ativo, e com a dor que eu
sentia eu não agüentaria nem duas. Me desesperava, e me acalmava, Ficava
nervosa, e respirava profundamente pensando “você vai conseguir!”.
Carol chegou e eu já estava nessa crise ambivalente: hora eu
queria desistir, hora me sentia forte. E disse pra ela “estou com medo de não
conseguir. Estou tendo aquela crise de covardia cedo demais!”. Ela ficou ao meu
lado, me deu apoio, falou com carinho que eu deixasse vir os sentimentos
também. O deixa vir não é só para as contrações. De repente mamãe chega em
casa. Ela, que não concordava com o PD, que não entendia essa minha opção,
entrou e disse “estamos juntas nessa!”. Pedi que ela ficasse com o mais velho
lá fora, eu queria ficar sozinha mesmo com Carol. Mas aquela frase.. aquela
frase eu vou lembrar pro resto da vida! La estava lá, e nós estávamos juntas
nessa. As contrações vinham fortes, e em cada uma eu lembrava alguma dica que
já tinha ouvido.. pensa no canal abrindo.. pensa que é uma contração a menos..
pensa que é uma onda e o pico dói mas passa rápido.. e eu aprendi a inspirar
forte na subida da onde e expirar vocalizando no pico. Isso ajudou muito. Aprendi
a relaxar durante a contração, apesar do meu corpo querer se expremer. Isso
ajudou mais. A Carol apertava meu quadril com toda a força! Isso aliviava
demais. E eu podia sentir algo abrindo entre as pernas. Percebi que aquela era
a sensação da dilatação. E decidi que teria controle sobre ela. Eu disse pra
mim mesma: “já que é pra doer tanto assim, então vamos dilatar muito em cada
contração.” Eu imaginava, então, em cada contração, que eu podia dilatar o
máximo. Em cada uma, eu dizia “Dilata!! Relaxa!! E deixa vir!!”. Eu fazia
massagens na barriga que faziam as contrações virem mais rápido. Me sentia uma
doida, se vai doer tanto, por que estou atiçando? Mas eu queria que elas
viessem, trouxessem Gael e fossem embora pra nunca mais! Então eu fazia. Quando
eu me perguntava “será que estou em parto ativo? Será que estou no começo? Será
que vou dar contar?” a minha resposta era sempre “não pensa nisso agora, deixa
vir”.
De repente as contrações paravam.. demoravam um pouco mais,
eu descasava, e rapidamente elas voltavam. “Obrigada, corpo”, eu pensava,
tentanto ser positiva e intima de mim mesma, apesar de racionalmente me sentir
besta. Eu respirava os exercícios que aprendi, eu pensava as frases que li, mas
eu fazia o que o corpo mandava. A posição, a caminhada, tudo ele que me pedia. “Você
vai conseguir”. Saber que eu não precisaria ir pra hospital nem fazer nem que
meu corpo não mandasse me deixava mais tranqüila. Estar sozinha com Carol, no
meu habitat, sem pessoas desconhecidas nem aparatos frios. Só a minha casinha,
a minha doulinha, e eu.
De repente, uma contração veio forte demais. Gritei muito,
gritei alto, e fiquei com medo. “Será que agora são horas delas assim?” “não
pensa nisso agora, deixa vir”. De novo. Dessa vez, me deu vontade de agachar.
Agachei. Senti uma coisa diferente. Levanta, respira, “será o Gael descendo?” “não
pensa nisso agora, e deixa vir!”. De novo, dessa vez vontade de fazer força. “Carol,
me deu vontade de fazer coco” “Nanda, você acha que é coco mesmo? Ou é bebe?...
“´É bebe!”. Sem querer me dar esperanças, mas ao mesmo tempo empolgada, uma vos
de dentro disse “É bebe. É Gael. Falta pouco!”. Chama a Telemi! Muita vontade
de fazer força na contração seguinte, fiz força e a contração veio muito forte.
Senti o Gael descer, e depois subir. “É assim mesmo”, Carol falou. De novo,
força, e dessa vez senti uma pressão enorme e dor. Bastante dor. Ele estava
vindo, e aquela dor só significava isso pra mim! “Você conseguiu! Falta pouco!
Vamos lá!!”. Contração, força, e Gael obviamente chegando. “Carol, se ele cair?
Preciso ficar em pé!” e força de novo. Sinto uma mão calma, é Telemi, minha
enfermeira obstétrica linda! Ela chegou a tempo de pegar Gael, sem que Carol
precisasse de parar as massagens. “Falta só mais uma” eu pensei. Ela veio,
agachei e fiz muita força e senti o círculo de fogo!!! A realidade bateu e não
tinha mais como negar! Força, força que não cabe, força que não sei de onde,
mas muita força. E saiu a cabecinha e a contração passou. Respira, acalma “ele não
saiu todo?” “não, só mais uma”. Olhei pra frente como quem se prepara pra uma
maratona e pensei “ultima contração da minha vida! Eu consigo!”. Ela veio
forte, enorme, doida, circulo de fogo de novo, e meu filho junto. Olho para
trás, e tem um bebê. O meu Gael. Eu consegui!
Ele chegou!! É verdade, eu consegui! “Eu consegui?” Ninguém
sabe se eu perguntava ou afirmava. Pego ele no colo, deito na cama, namoro. A
Paula chega, minha mãe em seguida. A placenta por ultimo. Mas a visita mais
presente era o orgulho. A sensação de ter conseguido exatamente o parto que eu
tinha buscado. Não só na minha casa, mas também dentro de mim eu consegui. Eram
10h. Foram 3 horas e meia apenas, apesar de absurdamente intensas. As meninas ficaram 4 horas comigo depois. Cortaram o cordão depois de mais de uma hora para garantir o aporte de ferro, e só tiraram ele do meu colo para pesar. Não teve nem um procedimento invasivo, nem um momento de dor. Banho só dois dias depois por que o cérvix tem vitamina k absorvido pela pele. Tudo o que se provou que não precisa, elas não fazem. Tudo o que já se estudou que é bom é natural, elas sabem.
Mamou da hora que nasceu até o presente momento que escrevo isso. Sempre comigo.
Minha opinião? Não foi sorte. Eu busquei isso. “Ah mais
segundo parto é mais fácil”, Não sei, por que com o medo que eu estava por
causa do primeiro, poderia ter sido ainda pior.
Claro que dentro dos meus processos, da minha experiência,
das minhas convicções.. mas eu consegui! Realizei dois sonhos.. o parto
domiciliar, e o parto à jato!
Triste por não ter tido o marido do lado, mas feliz pela
minha conquista individual. Ele com certeza estava junto, de coração e alma, de
apoio e amor. Te amo, meu príncipe! Agora tenho três homens da minha vida..
Grande beijo
Nanda.
Olha me emocionei! Parabéns pela conquista e pelo Gael!Deus os abençoes com muita saude
ResponderExcluirAcabo de ler com olhos marejados. Não tive essa coragem, optei pela cesariana, não tive apoio em escolher o que fosse melhor para nós, tive relatos que so me apavoravam. Tenho a sspesperade poder tentar...
ResponderExcluirOptei no meu segundo bebê , previsto para inicio de abril, pelo parto normal. Confesso que nao tinha lido relato das dores tão vivo, me deu um medinho, da dor, nao do parto. Pois tenho certeza que é isso q quero. O primeiro foi Cesária.
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