Dica: leitura a dois!
Apesar de a liberdade sexual feminina ser um tema muito
recente em termos históricos, temos enquanto mulheres a sensação de ter “superado
todos os obstáculos”, quando na verdade ainda operamos muitas vezes sob uma
ótica masculina da sexualidade, e temos ainda muito a aprender sobre a
feminilidade oculta.
Um bom exemplo disso é o, ainda, pouco contato e aceitação
com o que é naturalmente feminino. A menstruação, por exemplo, ainda é um tema
que muitos homens evitam, e muitas mulheres também, como se fosse algo sujo e
oculto. O copinho menstrual deixa isso claro nas redes sociais, apesar de já
ter uma boa aceitação, ainda é pela minoria, e ainda rende muitos comentários
maldosos e preconceitos. Outro exemplo é a forma como, na cultura brasileira,
as mulheres abraçaram a cesariana, por predominar a falta de contato com seus
corpos e pouca intimidade consigo mesmas, não tendo vontade de parir.
Como podemos perceber, a repressão sexual aparece de várias
maneiras, e não só com relação ao sexo propriamente dito. Em nossa cultura, a
visão masculina do sexo muitas vezes dá à mulher a falsa impressão de liberdade
sexual, quando na verdade as coloca numa posição masculina frente ao sexo:
ativa, agressiva, com objetivos claros e resultados palpáveis.
No entanto,
quando buscamos a essência da sexualidade feminina (até mesmo fisiologicamente),
percebemos que o sexo no corpo feminino tende a ser menos viril e penetrante.
Na verdade, segue um padrão mais sutil. O gozo do corpo feminino tende a
responder menos à penetração, e mais e melhor ao beijo, o sensível e o tátil.
E a sexualidade no pós-parto, muitas vezes, segue aqueles padrões,
de falsas expectativas e parâmetros, do ponto de vista masculino. A partir do
momento que a “atividade sexual” é “liberada pelo médico”, a mulher pode se
frustrar por seu desejo sexual não irromper “como antes”, culpadas e temerosas.
Por seguirmos o padrão viril penetrante, acabam se sentido pressionadas,
navegando no desejo do outro e com pouco contato com o que elas realmente
desejam (não só no sexo, mas em várias situações do pós-parto isso se faz presente. Ler mais aqui).
De acordo com Laura Gutman, o corpo da mulher não responde bem
a esse padrão no pós-parto uma vez que está em fusão emocional com o bebê, com toda
sua energia e atenção voltada para seu cuidado dele, e a libido voltada para a
amamentação, dia e noite. Além disso, freqüentemente encontram-se esgotadas,
tanto física quanto emocionalmente, perpassando por todo o turbilhão que traz o
puérperio. Ela diz:
“As sensações afetivas e corporais se tornam muito sensíveis,
e a pele parece um fino cristal que precisa ser tocado com extrema delicadeza”.
Além da sensibilidade extrema, a mulher fusão mãe/bebê está
imersa no universo do recém- nascido de forma tal, que sua presença se faz até
mesmo quando ele não está. Suas sensações se confundem, e aquele ser se faz
constante e necessário em cada momento e pensamento dessa mãe, que florescendo
se descobre cada dia mais fundida na díade.
Então, como fazer?
A sexualidade no pós-parto deve respeitar os limites do momento, sendo mais voltada para o amor, o cuidado, o cheiro, o sussurro, o carinho. Que ambos se conectem na sexualidade sensível e tátil feminina,
sem metas claras, penetração ou esforço. Acariciando-se e amando-se como num amasso adolescente sem rumo. Se divertindo e se curtindo como recém apaixonados, descobrindo-se novamente nesse novo mundo desconhecido.
Isto é, centrada no amor que
compartilham, no carinho que suas peles demandam, nas massagens tão merecidas,
na sexualidade e não no sexo.
Esse encontro amoroso e humano satisfaz a ambos,
e não invade a alma fusionada da mãe.
Uma vez que a criança se faz presente para mãe fusionada até quando não
está, ela então participa emocionalmente da relação amorosa dos pais, e por
isso torna indispensável que seja suave, sussurrante e acolhedora. Pois é do
que precisa a mãe exausta, o pai saudoso e o filho recém-chegado.
Com essas práticas, o puerpério traz a oportunidade de simplesmente
descobrir outras maneiras de exercer nossa sexualidade, nossos encontros
amorosos, que enriquecerão nossa sexualidade por promover a integração de aspectos
de nossos parceiros e de nós mesmos que desconhecíamos.
Vale dizer que quando há essa pressão para o ato sexual
viril e penetrante, quando a mulher pode não estar em condições físicas e emocionais
para tal, pode gerar-se um mal entendido, em que qualquer aproximação física seja
interpretada como um convite a essa demanda, fazendo com que a mulher venha a reagir, mesmo que inconscientemente. Isto é, distanciando-se, adoecendo ou projetando
essa dificuldade no bebê, que chora e a reclama o tempo todo.
Em resumo? Se amem!
mTroque carícias, façam carinhos e
massagens, falem e ouçam coisas gostosas ao pé do ouvido, sem que haja a
obrigação da penetração. Sem que haja metas e objetivos.
Se curtir mesmo, e ao
máximo, desenvolvendo a capacidade de cuidar, acariciar, comunicar e dar afeto,
demonstrando simplesmente o amor que existe.
Até quando?
A fusão emocional dura aproximadamente dois anos (mais sobre isso aqui), mas com essa harmonia e troca de carinhos, vocês perceberão que cada
casal tem seu tempo, e que sem pressão e com muito amor, as coisas fluem
naturalmente.
E o mais legal é que percebemos que a atividade sexual do casal sob essa ótica nem precisa de autorização médica nem de obedecer resguardo! O carinho é bem vindo sempre!
Vale ressaltar que esse é apenas mais um dos muitos aspectos
na vida do casal em que essa cumplicidade se faz absolutamente necessária.
Principalmente depois da chegada do bebê, para garantir a saúde do
relacionamento, bem como tudo o que vai se desenvolver a partir daí enquanto
casal, e enquanto pais. Pois a parentalidade, segundo a teoria que aqui
seguimos, está absolutamente relacionada à nossa saúde emocional. Ou seja, se o
casal de apóia e se ama, se compreende e se ajuda, terão grandes chances de
terem também um relacionamento saudável com seus filhos.
Essa cumplicidade também se faz necessária para o papel do
pai da gestação à criação, que é o tema do nosso próximo post!
Então fiquem ligados, homens, que vai ser muito útil para vocês!
Amem-se com carinho!
Grande beijo
#PsiMama
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